18.1.09

UMA HISTÓRIA DO CONTO - PARTE 8

Guillermo Cabrera Infante

Steinbeck e John Ford
Tão contraditório quanto Faulkner foi John Steinbeck: primeiro, comunista; depois, liberal e, mais tarde, um dos defensores mais ferrenhos do presidente Johnson e da Guerra de Vietnã. Além de seus grandes êxitos novelísticos, como Vinhas da Ira (conhecido na Espanha por um título menos bíblico e mais vitícola, Las Uvas del Rencor), que é, apesar da opinião de certos críticos americanos como Mary McCarthy, uma obra-prima popularizada em todo o mundo por John Ford, Steinbeck escreveu e publicou muitos contos, e seu segundo livro, Pastagens do Céu, é uma coleção de contos. Seu conto "O Cavalinho Vermelho" é uma pequena obra-prima, e seus contos longos, como "Ratos e Homens" e "A Pérola", são obras-primas desse gênero, a novela, que parece ter sido inventado pelos escritores americanos, de Henry James, com A Volta do Parafuso, a Hemingway, com O Velho e o Mar.
Mas vim aqui falar do conto. Toda intromissão de outros gêneros deve ser considerada uma digressão. E a digressão nunca deve ser considerada uma agressão. Como diz Laurence Sterne, é o sol que brilha sobre a conversa. Também, diriam vocês, sobre meu monólogo. Outro escritor contemporâneo desses autores artistas foi um jornalista que era um contista nato: o risonho e frágil Ring Lardner, que influenciou todos os mestres do humor americano que o sucederam. Lardner, embarcado numa missão impossível - criar o conto de humor absurdo -, se autodestruiu com o álcool.
Outro escritor agora esquecido, Erskine Caldwell, que já foi considerado o melhor contista do Sul selvagem, sabia mesclar o drama rural com uma sexualidade que, na época, era franca e atrevida, mas divertida. Agora, perto do que se vê no cinema, seus contos parecem se passar num convento de freiras que fumam. Lardner, contudo, teve colegas de mérito, como James Thurber, Robert Benchley e Dorothy Parker, que apostavam tudo no humor.
Ao mesmo tempo, outros de seus colegas da revista "New Yorker" fiavam, mas não confiavam no esquivo amor - que muitas vezes se escrevia ódio; outras, tédio. Talvez o maior mestre entre eles tenha sido John O'Hara, que fez dos diálogos aprendidos de Hemingway uma espécie de sábia sarabanda em que tudo se fiava à conversa, para revelar, mas muitas vezes ocultar, os conversantes, conversos de uma religião atéia.
Desde então não houve nenhum contista americano tão influente e tão lido - se excluirmos Raymond Carver. Ambos, O'Hara e Carver, são, à sua maneira, epígonos de Hemingway. Há outro grande contista contemporâneo que não vem da tradição americana, que não é americano, mas cria sua própria tradição na América, embora sua arte singular não tenha seguidores. Além de seus grandes romances, escreveu contos perfeitos que, curiosamente, foram quase todos publicados pela primeira vez na revista "New Yorker". Seu nome, claro, é Vladimir Nabokov. Acabaram de sair seus contos completos, e entre eles há pelo menos meia dúzia de obras-primas do gênero.
Se Os Contos de Canterbury não tiveram continuadores (a não ser, é claro, no uso do inglês: Chaucer tem na literatura inglesa o mesmo papel crucial que Dante na italiana), é talvez porque os ingleses do século 16 e 17 não sabiam ler, embora soubessem, sim, ouvir e apreciar a música das palavras, que vinha de poetas dramáticos como Marlowe e Shakespeare e Ben Jonson. Todos, sobretudo Jonson e Shakespeare, grandes contistas. Algo parecido ocorreu na Espanha, onde se preferiu o romance picaresco e a comédia ao conto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Maciel: preciso entrar em contato contigo. Por favor: rosel@casaraodoverbo.com.br
Obrigado,
rosel